Os textos desta secção refletem as opiniões e análises dos/as autores/as
Habitação, Gentrificação e Imigração Em Lisboa
O mercado de habitação lisboeta que sempre foi muito diversificado (social e culturalmente) vive, neste momento, um novo estádio de gentrificação em tudo diferente do do século XX, muito devido à explosão de diversas formas de alojamento turístico, promovidas sobretudo pelo grande investimento estrangeiro injectado por proprietários de peso e grandes grupos económicos de promoção imobiliária, mas também imigrantes qualificados pertencentes a uma elite transnacional. Enquanto os residentes no centro histórico, muitos deles imigrantes mais pobres e vulneráveis que sempre mobilizaram a habitação nos bairros populares como alternativa precária para a sua habitação continuam a influenciar a área, a gentrificação torna-se frequentemente acompanhada por agentes imobiliários de maior envergadura e a reabilitação urbana começa a afigurar-se como estratégia política e económica prioritária para a revitalização do centro histórico. Como resultado do aumento do volume de intervenções imobiliárias, as melhorias físicas e arquitectónicas tornam-se cada vez mais visíveis nesta fase. Ou seja, o centro histórico sempre foi um espaço de mix social e étnico. Coexistem duas grandes tendências de apropriação urbana neste momento: os imigrantes mais vulneráveis continuam ainda a ocupar alguns bairros multiculturais do centro histórico, ao mesmo tempo que a gentrificação começa a invadir estes espaços.
Presentemente, os preços das casas nestes bairros começam a subir galopantemente, em virtude das distorções introduzidas no mercado de habitação permanente e de arrendamento a longo prazo, pelo aumento de oferta de alojamento turístico. Sem regulação ou controlo moderado sobre a subida das rendas, o processo de desalojamento expande-se para formas mais agressivas, à medida que os valores imobiliários dos bairros também aumentam e o Estado aprova legislação facilitadora da iniciativa privada e do despejo de habitantes e comerciantes locais, sendo muitos deles imigrantes. As melhores propriedades habitacionais e comerciais mantidas tornam-se parte do mercado da classe alta e média-alta, à medida que os proprietários procuram tirar proveito da notoriedade reforçada da área, o que acaba, por sua vez, a conduzir a um maior desalojamento. Receia-se que o centro histórico, pela polarização social e segregação residencial que tem vindo a registar, perca as suas importantes características seculares de mistura social, étnica e cultural, onde o papel da imigração foi determinante, durante tantas gerações, para gerar inclusão social e diversidade cultural. Ao fim ao cabo, a base da sustentabilidade social e resiliência destas comunidades.