- Lisboa já tem canal “streaming” que promove atividades de associações pró-imigrantes
- Portugal é um dos melhores países para estrangeiros viverem, diz pesquisa
- Lisboetas vindos de fora. Thaise de todas as cores
- SEF desmantela rede de tráfico de seres humanos, três detidos
- SEF: 47 mil autorizações de residência renovadas de forma automática, 49% por brasileiros
- Vera, a ativista dos direitos humanos na diáspora que quer ser líder de futuro em Moçambique
- Número de brasileiros em Portugal cresce 43% em 2019 e bate recorde
- Álvaro Filho: conheça a história do autor brasileiro que está a escrever um livro em direto no Facebook
O discurso de ódio na comunicação social
Em sociedades multiétnicas, o uso da palavra pública enquanto instância de poder e de representação a nível simbólico e real é um bom “teste de algodão” para se observar como existe, subsiste e se expressa a discriminação racial. Nisso, a comunicação social tem um papel crucial por ser não só palco, mas também eco do discurso público, produtor e reprodutor do imaginário coletivo.
Numa altura em que o verniz da vergonha social em assumir filiação ideológica ao racismo e ao fascismo estalou definitivamente e de forma transversal na sociedade portuguesa, em que muita boa gente não tem pejo em fazer gala do seu racismo, a comunicação social tornou-se infelizmente um palco de fábrica, afirmação e normalização do discurso do ódio. O racismo estrutural encontrou respaldo institucional com a eleição de um deputado racista na AR, que faz da manipulação retórica e digital uma arma política em que arrasta a comunicação social convencional. A fronteira cada vez mais ténue entre opinião e informação na comunicação social mainstream deu espaço preponderante ao discurso do ódio, contribuindo para a sua amplificação e banalização. O racismo ordinário e a xenofobia desavergonhada, contrariamente ao que é geralmente veiculado, deixaram de ser o apanágio de gente inculta e carenciada que agiria por ignorância. O dever de reserva de servidores do Estado ou a observação de princípios da não discriminação em exercício de funções públicas já não são obstáculos para a manifestação pública do discurso do ódio que consegue encontrar espaço na comunicação social convencional.
Na competição com as redes sociais e disputa pelas audiências, a comunicação social convencional permitiu o alargamento de exércitos cibernéticos atrás da cortina digital que, sem vergonha nem medo da censura ética disseminam o ódio. Não é por acaso que as forças reacionárias e ultraconservadoras investem na indústria da manipulação política, através de fake news, ‘name-calling’, intimidação e ameaças, perseguição pública e devassa da vida privada, porque sabem que a febre do clickbait tomou conta da imprensa tradicional.
Enquanto a informação não for encarada como um bem público, com valor democrático e não como um mero produto comercial, ou enquanto a liberdade de expressão não assentar na responsabilidade de não permitir o aviltamento e a violência, o discurso do ódio alimentará a disputa pelas audiências cujo único propósito é defender lucros e não valores éticos e morais. O regresso da adesão ideológica ao supremacismo branco dentro da imprensa convencional, aliado à mercantilização do serviço da informação tem contribuido bastante para a normalização, banalização e legitimação do discurso do ódio na imprensa.